Chegou finalmente o dia em que voámos
rumo a Maputo! Com 5 malas mais a cadeirinha da papa, a cadeira para o
automóvel, o carrinho de passeio e a caixa transportadora do Merlin, tivemos
que ir em 3 carros e ter uma locomotiva para nos ajudar a transportar a
bagagem.
Desta vez custou mais deixar
Lisboa, a minha mãe lavada em lágrimas, eu a conter-me, até o meu pai que é tão
discreto e contido em sentimentos tinha os olhos cheios de água… Não gosto de
despedidas, mas desta vez foi inevitável, não iremos a Portugal no Natal e acho
que isso está a dar cabo de mim… Bem, mas ainda falta e lá viemos os 4. A
primeira viagem de avião do Vi e portou-se tão bem, 11h de voo e sempre bem
disposto, dormiu bem e a espalhar sorrisos pela “vizinhança”.
Dia 29 de Outubro aterramos em
Moçambique, 10 meses de Vicente e o início de uma nova vida!
Já tinha saudades deste cheiro a
terra molhada, do ar quente e das gentes tão genuínas.
Ainda não descansámos da viagem,
porque viemos para uma nova casa e a mudança foi feita no dia em que chegámos!
Loucura total!! A Luísa já tinha limpo tudo, mas ainda assim, arrumar e
organizar tudo levou uma semana. Depois de 7 dias em arrumações e como aqui 3ª
feira foi feriado e isso é sinónimo de 4 dias em que a cidade pára. Tínhamos já planeado
ir para Bilene e descansar verdadeiramente, mas a nossa estrelinha piorou da
constipação e começou um filme de desespero…
Das primeiras coisas a fazer
quando se vem com um bebé para cá, é ter um seguro de saúde, nós temos e
dirigimo-nos à clínica, de acordo com os sintomas do Vi
(constipação, nariz obstruído, febre que ia e voltava). Após observação é
necessário fazer o despiste da Malária. A nossa estrelinha teve que tirar
sangue, perguntei se podia ser através da urina ou uma picada no dedo, mas
estas análises só podem ser feitas tirando sangue, uma situação sofredora para
um bebé, as veias não se veem e a grossura da agulha naquele bracinho delicado
é assustadora, chorou ele, chorei eu, o Pai a conter-se e sentimo-nos tão
culpados por isso. Depois fez um Rx aos pulmões e aí é que foi o derradeiro
filme… Ora o médico explica-me que devo segurar nos braços do Vi e ao
exemplificar carrega exactamente com o polegar no sítio onde o Vi acabou de
tirar sangue, começou a chorar claro… Eu pedi ao médico para ter cuidado e não
lhe tocar onde estava o penso. Não é que a criatura, faz exactamente a mesma
coisa no mesmo sítio! Voltei a dizer-lhe e desta vez num tom alto, e responde ”
sim, sim tem que segurar aqui” e volta a
repetir a proeza! Numa atitude inata tirei-lhe o braço, empurrei-o com força e
gritei-lhe que não voltasse a tocar no meu filho! Baixou a cabeça, fez-lhe o Rx
e saíu em silêncio. Eu agredi um médico! Bonito…
1h depois temos o resultado das
análises. Pneumonia bacteriana. Senti o meu coração cair e desejei estar em
Portugal. Mantive-me calma, pensei no que devíamos fazer. Ir a África do Sul
que fica a 1.30h de Maputo ou seguirmos a indicação médica daqui, que também é
uma clínica Sul Africana. Ouvimos o Pediatra com alguma dificuldade por ser
cubano, mas entendemos tudo. Passámos na farmácia, medicamentos comprados
(caríssimos, 2 xaropes e um spray nasal o equivalente a 50,00€). Dei de
imediato um dos xaropes para começar a surtir efeito e aliviar a minha
estrelinha. Passados uns 30m começo a ver que o Vi fica completamente apático,
sem muita reacção e com dificuldade em respirar, fui ler o prospecto do
medicamento, e qual não é o meu espanto quando leio que é indicado para
crianças depois dos 2 anos! E quando leio os efeitos secundários quase que me
dá uma coisinha. Espasmos, delírios, dificuldade respiratória, alucinações,
febre, etc. E vejo que está escrito que nestes casos deve ser feita uma lavagem
ao estômago. Entretanto o Vi revira os olhos!! Ok, entrei em pânico. Aqui não
há 112 nem linhas de SOS. 22h em Maputo e fomos de imediato para a clínica que
funciona 24h e tem à disposição um helicóptero caso seja necessário a ida para
a África do Sul. Pelo caminho que são cerca de 5-7m vou-lhe dando água e
mantendo-o acordado. Chegamos à porta da clínica e tento controlar-me. Pensa
Márcia, pensa. Ok, optámos por ligar para a saúde 24 em Portugal para perceber
a gravidade da situação (como só tinha o nr 800 24 24 24 não é possível
efectuar a ligação do estrangeiro, liguei para o meu cunhado que fez a ligação
e me adicionou à conversa e assim pude falar directamente com eles). Impecáveis,
acederam de imediato à composição do medicamento sendo estrangeiro e confirmaram
que não deveria dar este xarope a um bebé de 10 meses, até porque a dosagem recomendada ainda que para 2 anos de idade, seria metade da que me foi indicada. Disseram para estar atenta a
alguns sinais e dar bastante água, descansaram-me ainda dizendo que não seria
necessário nenhuma lavagem ao estômago. No dia seguinte deveria ser observado
por um pediatra.
Na manhã seguinte foi observado
por outra pediatra que corrigiu a medicação. Nem nos cobraram nada da consulta,
tal foi a gravidade da situação. Após sairmos, liguei para a fundação Nossa Sra
do Bom Sucesso, no Restelo, onde o Vi é acompanhado em Portugal, para ser
esclarecida sobre algumas questões antes de iniciar a nova medicação ao Vi.
A Dra Fernanda Torgal
esclareceu-me e aí sim, senti segurança
em fazer-lhe a medicação. Só queria que a minha estrelinha melhorasse,
estava com o coração apertado e a rezar
para que ficasse bom depressa L
2ªa feira foi observado
novamente, francas melhoras, não foi preciso repetir nenhum exame nem análises,
que alívio!
Mais uns 2 ou 3 dias em casa e começámos
a sair e aproveitar o sol tão bom por aqui.
Quando as coisas correm bem, correm bem em qualquer lado, já o contrário... Dias difíceis neste regresso a
terras africanas.