domingo, 22 de novembro de 2015

Um mal nunca vem só

 

O meu regresso a Maputo parece que esteve “enguiçado” meses. Quando finalmente chego a Moçambique o Vi fica doentinho com uma pneumonia bacteriana e assim que recuperou, adivinhem??? Apanhou varicela!!! Será que não devíamos estar aqui? O meu lugar é em Lisboa e contrariei o universo em vir para cá? É que realmente só visto porque contado não dá para acreditar…
Pois bem (mal melhor dizendo) depois de 10 dias em casa a recuperar, soube que mesmo ao pé da nossa casa existem dois dias por semana em que se realizam actividades para bebés a partir dos 6 meses. Achei excelente, a minha estrelinha vai conviver com outras crianças, fazer novas descobertas, aprender e lá fomos. Adorou, percorreu tudo, sempre muito curioso, brincou e saiu de lá quase a dormir de tão cansado que ficou.
Dois dias depois aparece-lhe uma bolha na mão e no mesmo dia fica a arder em febre. Fiquei apreensiva, será que foi algum bichinho, será uma virose de alguma das crianças com quem esteve, será que apanhou um choque em alguma tomada (pode ter desligado alguma ficha sem me ter apercebido) aqui passam-nos logo pela cabeça todos os cenários possíveis! O facto de estarmos com um bebé de 10 meses em África deixa-nos em estado de alerta e resolvemos uma vez mais falar com a saúde 24 em Portugal. Dizem que o Vi deve ser observado de imediato, pois segundo o que transmiti, pode de facto ter apanhado um choque e ter alguma lesão interna.
Novamente uma situação de stress, temos que ter calma e saber agir de cabeça fria. Pesquisei na internet e as bolhas que se formam em caso de choque não coincidem de forma alguma com a que a minha estrelinha tem e também não vi nenhuma ficha fora da tomada. Descartada essa hipótese, vamos esperar até ao dia seguinte e se a febre não baixar, levamos o Vi para ser observado.
Na manhã seguinte o Vi está com os pés cheios de pequenos pontos vermelhos e algumas bolhas, rumo a mais uma clínica particular (mas vamos já bastante informados sobre o que o Vi poderá ter). A pediatra que o observa manda tirar sangue e eu digo de imediato que não autorizo, pergunto se não será alguma virose, “Mão Pé Boca” ou “Varicela” responde tal e qual “É… olha que parece mesmo ser essa virose aí do Mão Pé Boca, vou passar a receita”. Estão a ver a credibilidade…? Eu sei que não deixei tirar sangue e que aí se saberia exactamente qual o vírus que teria, mas fazer a minha estrelinha passar pelo mesmo filme de terror num espaço de dias, nem pensar!
Tivemos a recomendação de um pediatra que está no hospital privado, ligámos-lhe para o telemóvel para uma segunda opinião, foi muito acessível e disse que nos receberia no dia seguinte. Fomos e ficámos muito satisfeitos. Transmitiu-nos segurança, assim que olhou para o Vi disse que tinha varicela, explicou-nos tudo, pediu o boletim de vacinas (que nunca antes nenhum pediatra aqui nos pediu) a vacina da varicela não faz parte do plano nacional de saúde e só é administrada aos 12 meses. O Vi levou tantas vacinas e logo teve que apanhar varicela L Este vírus tem um período de incubação de 14 dias, por isso apanhou, imaginem, quando ainda tinha pneumonia e só pode ter sido numa das idas à clínica L L
Por ter menos de 1 ano e não ter defesas quase nenhumas, o nosso baby tem que ter ajuda para combater este vírus. ½ comprimido “Cyclovax” de 8h/8h que não é específico para a varicela, mas combate qualquer vírus e uma loção rosa “Cala Mina” que passamos duas vezes por dia  para ajudar a secar as borbulhas (a mesma que me foi aplicada em criança quando tive varicela). No banho pomos também farinha maizena que dizem aliviar a comichão.
Sem poder apanhar sol, mais uma semana em casa, sorte em ter um verdadeiro amigo de 4 patas que está sempre com ele. 20 dias, uma pneumonia bacteriana e varicela… África não facilita.


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Olá Moçambique

Chegou finalmente o dia em que voámos rumo a Maputo! Com 5 malas mais a cadeirinha da papa, a cadeira para o automóvel, o carrinho de passeio e a caixa transportadora do Merlin, tivemos que ir em 3 carros e ter uma locomotiva para nos ajudar a transportar a bagagem.

Desta vez custou mais deixar Lisboa, a minha mãe lavada em lágrimas, eu a conter-me, até o meu pai que é tão discreto e contido em sentimentos tinha os olhos cheios de água… Não gosto de despedidas, mas desta vez foi inevitável, não iremos a Portugal no Natal e acho que isso está a dar cabo de mim… Bem, mas ainda falta e lá viemos os 4. A primeira viagem de avião do Vi e portou-se tão bem, 11h de voo e sempre bem disposto, dormiu bem e a espalhar sorrisos pela “vizinhança”.

Dia 29 de Outubro aterramos em Moçambique, 10 meses de Vicente e o início de uma nova vida!

Já tinha saudades deste cheiro a terra molhada, do ar quente e das gentes tão genuínas.

Ainda não descansámos da viagem, porque viemos para uma nova casa e a mudança foi feita no dia em que chegámos! Loucura total!! A Luísa já tinha limpo tudo, mas ainda assim, arrumar e organizar tudo levou uma semana. Depois de 7 dias em arrumações e como aqui 3ª feira foi feriado e isso é sinónimo de 4 dias em que a cidade pára. Tínhamos já planeado ir para Bilene e descansar verdadeiramente, mas a nossa estrelinha piorou da constipação e começou um filme de desespero…

Das primeiras coisas a fazer quando se vem com um bebé para cá, é ter um seguro de saúde, nós temos e dirigimo-nos à clínica, de acordo com os sintomas do Vi (constipação, nariz obstruído, febre que ia e voltava). Após observação é necessário fazer o despiste da Malária. A nossa estrelinha teve que tirar sangue, perguntei se podia ser através da urina ou uma picada no dedo, mas estas análises só podem ser feitas tirando sangue, uma situação sofredora para um bebé, as veias não se veem e a grossura da agulha naquele bracinho delicado é assustadora, chorou ele, chorei eu, o Pai a conter-se e sentimo-nos tão culpados por isso. Depois fez um Rx aos pulmões e aí é que foi o derradeiro filme… Ora o médico explica-me que devo segurar nos braços do Vi e ao exemplificar carrega exactamente com o polegar no sítio onde o Vi acabou de tirar sangue, começou a chorar claro… Eu pedi ao médico para ter cuidado e não lhe tocar onde estava o penso. Não é que a criatura, faz exactamente a mesma coisa no mesmo sítio! Voltei a dizer-lhe e desta vez num tom alto, e responde ” sim, sim tem que segurar aqui”  e volta a repetir a proeza! Numa atitude inata tirei-lhe o braço, empurrei-o com força e gritei-lhe que não voltasse a tocar no meu filho! Baixou a cabeça, fez-lhe o Rx e saíu em silêncio. Eu agredi um médico! Bonito…

1h depois temos o resultado das análises. Pneumonia bacteriana. Senti o meu coração cair e desejei estar em Portugal. Mantive-me calma, pensei no que devíamos fazer. Ir a África do Sul que fica a 1.30h de Maputo ou seguirmos a indicação médica daqui, que também é uma clínica Sul Africana. Ouvimos o Pediatra com alguma dificuldade por ser cubano, mas entendemos tudo. Passámos na farmácia, medicamentos comprados (caríssimos, 2 xaropes e um spray nasal o equivalente a 50,00€). Dei de imediato um dos xaropes para começar a surtir efeito e aliviar a minha estrelinha. Passados uns 30m começo a ver que o Vi fica completamente apático, sem muita reacção e com dificuldade em respirar, fui ler o prospecto do medicamento, e qual não é o meu espanto quando leio que é indicado para crianças depois dos 2 anos! E quando leio os efeitos secundários quase que me dá uma coisinha. Espasmos, delírios, dificuldade respiratória, alucinações, febre, etc. E vejo que está escrito que nestes casos deve ser feita uma lavagem ao estômago. Entretanto o Vi revira os olhos!! Ok, entrei em pânico. Aqui não há 112 nem linhas de SOS. 22h em Maputo e fomos de imediato para a clínica que funciona 24h e tem à disposição um helicóptero caso seja necessário a ida para a África do Sul. Pelo caminho que são cerca de 5-7m vou-lhe dando água e mantendo-o acordado. Chegamos à porta da clínica e tento controlar-me. Pensa Márcia, pensa. Ok, optámos por ligar para a saúde 24 em Portugal para perceber a gravidade da situação (como só tinha o nr 800 24 24 24 não é possível efectuar a ligação do estrangeiro, liguei para o meu cunhado que fez a ligação e me adicionou à conversa e assim pude falar directamente com eles). Impecáveis, acederam de imediato à composição do medicamento sendo estrangeiro e confirmaram que não deveria dar este xarope a um bebé de 10 meses, até porque a dosagem recomendada ainda que para 2 anos de idade, seria metade da que me foi indicada. Disseram para estar atenta a alguns sinais e dar bastante água, descansaram-me ainda dizendo que não seria necessário nenhuma lavagem ao estômago. No dia seguinte deveria ser observado por um pediatra.

Na manhã seguinte foi observado por outra pediatra que corrigiu a medicação. Nem nos cobraram nada da consulta, tal foi a gravidade da situação. Após sairmos, liguei para a fundação Nossa Sra do Bom Sucesso, no Restelo, onde o Vi é acompanhado em Portugal, para ser esclarecida sobre algumas questões antes de iniciar a nova medicação ao Vi.

A Dra Fernanda Torgal esclareceu-me e aí sim, senti segurança em fazer-lhe a medicação. Só queria que a minha estrelinha melhorasse, estava  com o coração apertado e a rezar para que ficasse bom depressa L

2ªa feira foi observado novamente, francas melhoras, não foi preciso repetir nenhum exame nem análises, que alívio! 

Mais uns 2 ou 3 dias em casa e começámos a sair e aproveitar o sol tão bom por aqui.

Quando as coisas correm bem, correm bem em qualquer lado, já o contrário... Dias difíceis neste regresso a terras africanas.